Segundo Mircéia Eliade

O caráter a-histórico da memória popular, a impotência que a memória coletiva manifesta em reter os acontecimentos e as individualidades históricas, a não ser na medida em que as transforma em arquétipos, isto é, na medida em que anula todas as particularidades “históricas” e “pessoais” coloca uma série de novas questões. Interrogando a importância dos arquétipos para a consciência do homem arcaico e a incapacidade da memória popular de reter qualquer coisa além dos arquétipos não nos revelará algo mais do que a resistência da espiritualidade tradicional para com a história; e se essa incapacidade não nos revela a caducidade, ou, pelo menos, o caráter secundário da individualidade humana como tal, individualidade cuja espontaneidade criadora constitui, em última análise, a autenticidade e a irreversibilidade da história. Se observarmos o comportamento geral de homem arcaico, verificamos que apenas os atos humanos propriamente ditos, os objetos do mundo exterior, possuem valor intrínseco autônomo.
Ao analisarmos as ações do cotidiano, percebemos nelas seu significado e importância na história dessas mulheres. Algumas das atividades do tradicional mundo feminino permanecem sendo executadas. Atividade como lavagem de roupa na cachoeira, ainda é feita por uma das mulheres. A mesma que recusou-se a negociar com a Companhia para venda das terras, e na época da briga, deitou-se na frente do trator para evitar a destruição do local onde sua mãe lavava a roupa e suas filhas iriam lavar. A utilização do fogão a lenha por quatro mulheres do grupo pesquisado, mesmo possuindo o fogão a gás, marcando essas ações o não desligamento de comportamentos tradicionais (exemplares). E as atividades de lavoura que também permanecem.

- Ainda trabalho na roça ainda. Tô com essa idade ainda vou na roça. Com meu marido na roça. Carpir a mandioca, levar uma mandioca. Buscar uma planta lá, um aipim. Mas os nossos ossos já está cansado. Os nossos ossos já está muito cansado. Mas já viu muita coisa.

Depoimentos

A reflexão sobre as mudanças e seu impacto na sociedade local está presente nas falas das mulheres.

- Hoje que o pessoá na Trindade é que chega pra senhora, conversa com a senhora, chega outro, conversa com outro, mas de primeiro, quando agente via uma pessoa assim, corria pra dentro de medo. É que não está acostumado no meio do povo, no meio do povoado. Tem pessoa que quando escuta a fala corre. Porque antigamente agente era muito analfabeto, crescemos naquilo assim. Agente tava aí na praia, qualquer coisa aí, agente era menina também né, agente era criança também, menina. Agente não tinha aquela orientação. Ah tá chegando um barco aí, ai como é que diz? Os marinheiros, de primeiro chamava marinheiros. Os marinheiros vem aí, vão agarrar em nós, agente se escondia em uma pedra. Deixava eles passarem, pra depois agente sair, ir embora. Hoje nosso filhos faz assim que nem nós? É ruim fazer, ainda vão lá ver. Naquele tempo era nervoso medroso. Não é que nem hoje. Fala com um, fala com outro. Naquela época o povo era muito pouco. As pessoa que moravam era pouca gente .


A divisão das tarefas no grupo familiar é uma constante na forma de organização local.

- Tinha os filhos tudo miúdo, era uma correria né. Porque eu tinha que fazer tudo cedo em casa, pra ir pra roça né. Porque eu ajudava a minha mãe né, na roça. Eu deixava tudo pronto. Que eu tinha meu pai né pra tomar conta das crianças né, e depois que o meu pai faleceu aí eu dei um tempo né, porque aí não tinha com quem deixar já as crianças né. Porque aí os três maiores já iam pra roça com a mamãe. E, ficavam as duas menores. Aí não tinha como deixar né.

Os hábitos alimentares nos mostram que agricultura de subsistência supre a família nas suas necessidades básicas.

- Fazia a comida, pras pequenas agente dava primeiro a banana, cozinhava a banana e dava, depois já fazia papa de farinha já dava, depois com seis meses agente já começava a dar comida de panela feijão, arroz né, peixe né, que aqui o que agente usava comer mais era peixe mesmo né. Antes tempo, as carnes eram melhor do que agora né, carne seca aquelas carnes seca boa; lavava a roupa deixava tudo pronto né que era pro meu pai dar comida a eles né. Depois eu ia sozinha ia atrás.

A descrição da infância e juventude dessas mulheres, vista como sacrificadas, nos revela em suas narrações que Trindade apresentava-se segura e tranquila para viver .

- Naquele tempo eu não tinha medo de passar aí. Agente passa esse pedaço daqui, praia, o morro do sapé, né. A nossa roça é um pouquinho antes da entrada da praia Brava, então não encontrava com ninguém, só com os trindadeiros mesmo né .

A educação formal inexistia, mas encontramos o interesse na alfabetização em 10 mulheres do grupo estudado.

- Estudei só o Abc, aprendi com a luz do fogo. Quando tinha uma folgazinha ia estudar, como de dia não tinha tempo, tinha café pra apanhar, pra trabalhar na roça, pra fazer farinha, pra remendar roupa que agente usava roupa remendada. Hoje ninguém usa roupa remendada, né. Hoje ninguém usa, mas naquele tempo, usava pra ir pra roça, pra pescaria por aí. Então estudava o livro de noite, acendia o fogo, usava lenha. Então aprendi, porque tinha muita vontade de aprender leitura, tinha mesmo. Gostava de aprender a ler, gostava mesmo. Eu ainda me casei com essa idade (17), porque meu pai era solteiro, viúvo, queria casar também, mas não queria que eu andasse nas costas dele queria andar sozinho. E eu não tinha vontade de casar, eu pensava na luta de casar. Que eu via minhas irmãs casar. Eu olhava a luta das minhas irmãs, não vou me casar não. Minhas irmãs lá chorando, aí com essas criançadas atrás dela, eu via aquilo, né, mas o pai quis que eu casasse né. Ele queria sair, queria passear de noite, não queria que agente fosse nas costas dele passear com ele .
- Agente ia buscar lenha, isso eu era moça mocinha. Vamos buscar uma lenha na roça. Cortava no mato quando via madeira seca. Nós ia pro mato pegar lenha, nós dizia, mamãe pode contar que duas horas da tarde nós estamos aqui. Porque meio dia agente pisava na sombra. Aí nós pegava e fazia dois feixos. Pegava um trazia, né. Deixava em casa tomava um café. E voltava pra buscar a lenha e tomar banho. Fazia uma pilha dentro de casa. Porque chegava o tempo de chuva e tinha lenha dentro de casa .

A HISTÓRIA FAMILIAR


Ao se analisar o conjunto das 18 entrevistas verificamos que a maioria das mulheres é originária de Trindade, apenas uma é da praia do Sono distante meia hora de barco a motor. A descrição do modo de vida familiar está presente nas falas em vários momentos das entrevistas, a obediência aos costumes reproduzia-se nos ensinamentos aos filhos.

-E eu trabalhava com a minha mãe, eu trabalhava na roça com meu pai, eu ajudava meu pai na roça. Quando era tempo de fazer farinhada pra vender, eu tava rente com meu pai e minha mãe. Eu nunca respondi meu pai nunca tomei um tapazinho assim do meu pai com a minha mãe, nunca tomei. Porque meu pai dizia assim aquele tempo passado, os pai era enérgicos, dizia assim oh: hoje vai vir uma visita aqui em casa e avisava, porque ele tinha muito colega, muito muito muito, principalmente em Paraty. Ele fazia canoada de lenha pra vender em Paraty e eu tava rente no remo da canoa com ele remando. Junto com ele na canoa levando lenha pra vender em Paraty. Então ele disse: hoje aqui vem uma visita se vocês chegarem na porta e rir, eu peço licença tiro a correia. E quem é que ri quando chegasse visita lá em casa, não ninguém ia rir . Quando eu era solteira eu ria tanto tanto tanto mas eu ria tinha vontade de rir né. Então as vezes os outros até podia cismar que era caçoada, mas não era, eu ria, eu era muito risonha e todo mundo gostava de mim quando eu era solteira.
- Porque ela é um bocado alegre. Ela ri com a gente, ela não se despreza da gente. Então eu fui uma menina legal sabe, tanto pra minha família como pros estranhos né, nunca tive nada que ninguém dizer de mim eu bedecia a igreja desde o meu nascimento.

Transparecendo uma vida sacrificada, essas mulheres contam uma história de luta contínua para a sobrevivência.

- Aí eu me casei. As minhas filhas se criaram todas as três comigo. O jeito que a minha mãe me criou eu criei as minhas filhas. Eu coloquei uma pra lavar roupa, eu coloquei a outra pra limpar a casa e coloquei a outra pra lavar louça e eu fazia comida, lá em casa era assim, no tempo que eu me casei eu fazia isso com as minhas filhas, sabe. Então foram tudo obedientes. Então tem um ditado que diz o que é bom já nasce feito, não é? A senhora sabe desse ditado. A minha mãe costurava né, cortava calça do papai que era o marido dela. Então um dia eu disse assim , mamãe eu quero aprender costurar porque um dia eu vou casar e não sei fazer nada. Aí ela foi pegou um jornal botou em cima da mesa, botou uma calça do papai, e botou em cima daquele jornal e cortou, aquele molde né aquele molde de jornal, ali eu botei aquele jornal numa calça do papai num pano e cortei e ficou boa. E aí eu comecei a costurar, costurar que costuro até hoje. Nunca tive máquina que nunca quis dever ninguém, nunca quis dever a ninguém que eu sei que uma máquina é caro e eu não tinha dinheiro pra pagar. Agora se eu quisesse, eu tinha dinheiro pra pagar a prestação né. Que agente recebe essa michariazinha dava né . Que eu não gosto de dever nada a ninguém, não eu não gosto, mas parece se agora eu tiver uma máquina eu não sei costurar na máquina mais, porque eu já acostumei na mão.

A ausência da mãe relatada nas falas é um dado importante, uma desestruturação familiar é percebida nessa situação.
-. Minha mãe morreu fiquei com um ano de idade. Não alcancei minha mãe. Eu fiquei e me criei na casa dos outros, né.. Quando meninazinha fui pra Pinciguaba. Lá que me formei , me aparei moça, lá. Trabalhando em casa de família, lá. Depois conforme a idade eu me recolhi pra casa. Meu pai, meus irmãos. O mais velho casou aqui e foi embora pra Santos. Três irmãos. Aí fiquei com dois irmãos que trabalhavam em Santos. Lá morreu um, lá mesmo. Esse é morto. Irmão vivo tem só l. Aí casei e dobrou o trabalho a mesma coisa. Eu tive 9 filhos.

Anteriormente a praia do Sono era mais perto, cerca de 1 hora de caminhada. A construção de um condomínio fechado a partir da década de 70 (condomínio de Laranjeiras) impediu a passagem natural entre os dois locais.

Sob orientação da Epidemiologia

Ciência que estuda o processo saúde-doença na sociedade, analisando a distribuição populacional e os fatores determinantes nos eventos associados à saúde coletiva, consegui conduzir esta investigação. Para essa ciência, tempo, espaço físico, pessoa e estrutura social são pontos de vista sob os quais se estudam os fatores determinantes que interagem na saúde de uma população. Fatores sociais ligados à cultura, religião, organização social e condições sócio-econômicas também participam dessa interação.
A investigação de fenômenos naturais e sociais obriga a utilização de métodos e ajuste dos recursos disponíveis. As experiências dos indivíduos devidamente sistematizadas, têm tido papel importante no desenvolvimento do conhecimento teórico e este por sua vez tem orientado as práticas dos seres humanos ao longo da história. Assim os primeiros homens da ciência, valeram-se da sistematização de manifestações vivenciais transcendentes para a humanidade, com o fim de fixar bases teóricas da ciência através da interação, entre o conhecimento sensorial e o conhecimento lógico. A investigação científica em qualquer área do conhecimento tem como finalidade a descrição, explicação e predição dos fenômenos.
Seguindo este modelo descrevo a seguir os achados que interagiamm no mundo dessas mulheres, suas memórias que identificam épocas e utilizando suas próprias palavras, como tem sido feito até agora em vários momentos da dissertação, descrevo o dia dia de labuta doméstica, da cozinha, da limpeza da casa e da lavagem de roupas, associados com o trabalho da roça, narrados em conjunto com as lembranças da infância, do casamento, da relação familiar, das festas, das doenças e seus métodos de cura, das transformações com a saída dos homens quando embarcados, e a briga da Companhia.

Economia

Em 1986 chegou a luz elétrica, e a partir daí novos hábitos se instalam: televisão, máquina de lavar roupa, o freezer, que traz transformações para a atividade de pesca que se beneficia com a maior conservação dos peixes. Com isso tem-se o desaparecimento da prática de salga e secagem, em que havia a participação das mulheres.
A atividade econômica modifica-se. A pesca, que já vem diminuindo com a competição da pesca comercial com grandes barcos, tecnologia de rastreamento de cardume de peixes foi sendo paulatinamente abandonada, o mesmo acontecendo com a lavoura devido a diminuição do espaço de plantio, desta forma a maioria dos trindadeiros passa a dedicar-se a nova atividade: o turismo.
Iniciada a partir da década de 70, o turismo é atual mola na economia local. Sazonal atingindo picos de até 10 mil pessoas em feriados do Ano Novo e Carnaval, introduz uma nova problemática que é o Saneamento do Meio. Os resíduos líquidos e sólidos, contaminando o solo e as águas, introduz uma variável importante no processo saúde-doença.
O turismo é atualmente a principal fonte de renda local. Toda a comunidade organiza-se, para as temporadas de verão, feriados prolongados, preparando as habitações, com ampliações e construções para hospedagem e alimentação dessa população flutuante que traz dinheiro, mas introduz também novos costumes.
- Então com asfalto ou não asfalto, vem gente sim, vem muita né. Eles gostam . E vem. Então acontece muita sujeira aí. É com eles mesmo. E esse pessoá que vem dão dinheiro pra nós aqui. Porque agente serve uma comida. Por exemplo eu não tou servindo mais, mas já servi muita comida. Meu filho serve, né. Então esse pessoá que vem traz dinheiro pra gastar com nós, que antigamente não tinha isso, né, antigamente não tinha. Agente não tinha onde lançar a mão pra ter um dinheiro, né. Porque a rocinha que a gente fazia era só pro gasto de casa, não dava pra vender. Então acho que agora tá melhor.
- Hoje que tem movimento na Trindade. Hoje tem carro aí adoidado. Pessoal de fora entraram aqui, tem seus apartamentos aí, seus prédios aí, essas coisas aí. Vê que até os povo de fora animaram a gente, deram umas força pra gente. Esse modo de viver. Antes não tinha medo . Aqui não tinha estrada como tem hoje. A nossa viagem pra ir em Parati era um caminho. Agente ia a pé. Antes ia a pé. Saía daqui com o clarear do dia, viajando a pé pra Parati, pra trazer no ombro. Pra pousar, pra voltar no outro dia.
- Ficou muito melhor, né. Melhorou muito. Porque antigamente nós ia daqui a pé em Parati. E agora nós vamos daqui no Alto. E as vezes agente tem uma carona pra ir. Agente paga pra ir até a cidade, agente vai. Nisso as coisa melhorou muito. Antigamente o dinheiro era pouco né, o dinheiro era pouco. Pra gente comprar alguma coisa, agente precisa lavar a roupa do pesoá.
Das 123 famílias existentes a época do início da transformação, restam 19 famílias que compõem a faixa etária estudada. Desse grupo apenas duas famílias que poderíamos classificar no grupo etário escolhido não foram entrevistadas, isto devido a ausência (por óbito) da mulher maior de 50anos. E uma das mulheres também dessa faixa etária não reside na vila de Trindade, espaço escolhido na investigação, mas em outra localidade denominada Caixadaço.
A partir da análise realizada, verificamos que as mulheres entrevistadas têm uma visão progressista com relação a vinda do turismo, uma vez que este é identificado com a melhora da sua qualidade de vida. A possibilidade de ganho, desenvolvendo atividades próprias femininas, cozinhar, cuidar da casa, quando servem refeições e alugam quartos, não é senão a extensão dos seus trabalhos domésticos só que remunerados.

CICLO III - “TRINDADE SE DESMANCHANDO EM BAR”.




O terceiro ciclo que identificamos na vila de Trindade tem início em 1982, época da assinatura do acordo. Essa fase caracteriza-se em especial pela transformação da sociedade tradicional e pelas modificações ocorridas.
A população anteriormente autóctone, modifica-se em sua composição pela imigração de pessoas provenientes de diferentes estados brasileiros, tais como, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Paraná e Rio Grande do Sul. Através de casamentos com os nativos ou pela compra das terras dos trindadeiros para a instalação de comércio, a população recém chegada ocasiona profundas transformações na sociedade tradicional. As modificações ocorridas nas atividade econômicas de primária (pesca e agricultura) para terciária (serviços) é mais uma das variáveis encontradas no estudo, sendo que atualmente apenas duas moradias do total de 250 residências existentes não utilizam a casa como comércio.

- A Trindade tá se desmanchando em bar. Tem muitos bar por aí, tem muitos bar por aí né. Na praia antigamente era só onde tinha bar. Agora cada um tem o seu bar bom pra trabalhar, então nesses intervalos não posso dizer se tá melhor ou tá mais ruim, porque a Trindade tá enchendo muito de gente de fora é isso aí. Tem muitas pousadas que não tinha né, antigamente não tinha era tudo pobrezinho.

A transformação local é contada pelas mulheres, com a percepção da introdução de novos modos de viver que vêm junto nessa mudança. O acesso fácil a Paraty permite o aparecimento de novas formas de trabalho. A moradia como opção de comércio.

- Aqui não tinha rua era só aquele trilhozinho assim de nada. Aí não tinha aquela estrada aí. O caminho era por lá por cima, pelo mato. Agente ia pra Paraty, saía daqui 5 horas da manhã, chegava 7, 8 da noite, aqui em Trindade, era o dia inteiro pra viajar. Mas agora não, né .

E a fixação do dinheiro na localidade, que até então não fazia parte da economia local a circulação de dinheiro. Aumentando o poder de consumo e melhorando o acesso a serviços de saúde.

- Agora agente não tem dinheiro né, que possa pagar toda vez que agente quiser ir, uma perua pra gente ir. Mas quando agente ta com dinheiro facilita agente, sabe um trocadinho aí, vai faz a comprinha da gente, né. E não cabia mais esse mato que agente caminhava, já tem uma estrada boa pra gente passar, né tem muito carro aí, o pessoá se dão muito comigo e quando eles estão aqui: tia quer ir em Paraty, vamos tia vamos. Tem muita gente bão, tem muita gente bão que aparece aí , né. Então eu não sei, eu acho que sobre agora a vivência eu acho que tá melhor. Porque cai uma pessoa doente, antigamente iam levar na rede, levava na rede pra Paraty a pessoa doente. E agora não, agora tem as condução pra levar. Muito leva pago mas muito já não leva pago, agente já vai né caiu doente aí. Ontem mesmo eu tava aqui quase morta com uma dor aqui e um menino que tá construindo aí, ele tem família que tem dois carros, tia vou levar, já melhorou. Só que eu não quis ir, mas se eu quisesse ir ele me levava de graça. Então acho que melhorou um pouco sim, acho que melhorou.
A entrada do dinheiro nessa economia ao longo desses períodos, ocorreu inicialmente durante a década de 40 com a saída dos homens para a pesca embarcada. Num segundo momento durante a época da briga contra a Companhia tem-se a entrada de dinheiro proveniente das vendas das posses e, atualmente com o turismo.
Existem praticamente dois tipos de turistas freqüentando essa comunidade. O primeiro tipo é representado pelo turismo individual ou familiar, mais intenso nas férias escolares - verão e inverno - e feriados prolongados e o segundo é turismo de residência secundária. Os turistas utilizando a infra-estrutura dos bares, restaurantes, camping, pousadas, passeios de barco no seu lazer turístico, fazem o movimento da economia local.
Ao se analisar algumas das transformações ocorridas nessa comunidade verificamos que sob o ponto de vista feminino houve melhora como atestam a maioria das mulheres em suas falas, apesar da variante medo ser um constatação de algumas mulheres, esse sentimento veio após a perda do isolamento.

- Porque antigamente era tudo pobrezinho, pobrezinho. Aquelas casinhas de barro. Tinha gente que tinha medo quando chegava gente, se escondia assim , tinha medo né..... quase não tinha nada pra comer, agora tem.
- E agora não, agora agente encontra muita gente de fora, muito carro né, então dá aquele medo né, antes não.
- A Trindade mudou, né. Porque naquele tempo não tinha essas casas aí, né. Era mata. As casa eram de sapé, não tinha material era sapé. Melhorou né, melhorou muito. Mas o pessoá de fora comprou e com o dinheiro da posse das pessoas, fizeram essas casas melhor.