CICLO III - “TRINDADE SE DESMANCHANDO EM BAR”.




O terceiro ciclo que identificamos na vila de Trindade tem início em 1982, época da assinatura do acordo. Essa fase caracteriza-se em especial pela transformação da sociedade tradicional e pelas modificações ocorridas.
A população anteriormente autóctone, modifica-se em sua composição pela imigração de pessoas provenientes de diferentes estados brasileiros, tais como, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Paraná e Rio Grande do Sul. Através de casamentos com os nativos ou pela compra das terras dos trindadeiros para a instalação de comércio, a população recém chegada ocasiona profundas transformações na sociedade tradicional. As modificações ocorridas nas atividade econômicas de primária (pesca e agricultura) para terciária (serviços) é mais uma das variáveis encontradas no estudo, sendo que atualmente apenas duas moradias do total de 250 residências existentes não utilizam a casa como comércio.

- A Trindade tá se desmanchando em bar. Tem muitos bar por aí, tem muitos bar por aí né. Na praia antigamente era só onde tinha bar. Agora cada um tem o seu bar bom pra trabalhar, então nesses intervalos não posso dizer se tá melhor ou tá mais ruim, porque a Trindade tá enchendo muito de gente de fora é isso aí. Tem muitas pousadas que não tinha né, antigamente não tinha era tudo pobrezinho.

A transformação local é contada pelas mulheres, com a percepção da introdução de novos modos de viver que vêm junto nessa mudança. O acesso fácil a Paraty permite o aparecimento de novas formas de trabalho. A moradia como opção de comércio.

- Aqui não tinha rua era só aquele trilhozinho assim de nada. Aí não tinha aquela estrada aí. O caminho era por lá por cima, pelo mato. Agente ia pra Paraty, saía daqui 5 horas da manhã, chegava 7, 8 da noite, aqui em Trindade, era o dia inteiro pra viajar. Mas agora não, né .

E a fixação do dinheiro na localidade, que até então não fazia parte da economia local a circulação de dinheiro. Aumentando o poder de consumo e melhorando o acesso a serviços de saúde.

- Agora agente não tem dinheiro né, que possa pagar toda vez que agente quiser ir, uma perua pra gente ir. Mas quando agente ta com dinheiro facilita agente, sabe um trocadinho aí, vai faz a comprinha da gente, né. E não cabia mais esse mato que agente caminhava, já tem uma estrada boa pra gente passar, né tem muito carro aí, o pessoá se dão muito comigo e quando eles estão aqui: tia quer ir em Paraty, vamos tia vamos. Tem muita gente bão, tem muita gente bão que aparece aí , né. Então eu não sei, eu acho que sobre agora a vivência eu acho que tá melhor. Porque cai uma pessoa doente, antigamente iam levar na rede, levava na rede pra Paraty a pessoa doente. E agora não, agora tem as condução pra levar. Muito leva pago mas muito já não leva pago, agente já vai né caiu doente aí. Ontem mesmo eu tava aqui quase morta com uma dor aqui e um menino que tá construindo aí, ele tem família que tem dois carros, tia vou levar, já melhorou. Só que eu não quis ir, mas se eu quisesse ir ele me levava de graça. Então acho que melhorou um pouco sim, acho que melhorou.