Economia

Em 1986 chegou a luz elétrica, e a partir daí novos hábitos se instalam: televisão, máquina de lavar roupa, o freezer, que traz transformações para a atividade de pesca que se beneficia com a maior conservação dos peixes. Com isso tem-se o desaparecimento da prática de salga e secagem, em que havia a participação das mulheres.
A atividade econômica modifica-se. A pesca, que já vem diminuindo com a competição da pesca comercial com grandes barcos, tecnologia de rastreamento de cardume de peixes foi sendo paulatinamente abandonada, o mesmo acontecendo com a lavoura devido a diminuição do espaço de plantio, desta forma a maioria dos trindadeiros passa a dedicar-se a nova atividade: o turismo.
Iniciada a partir da década de 70, o turismo é atual mola na economia local. Sazonal atingindo picos de até 10 mil pessoas em feriados do Ano Novo e Carnaval, introduz uma nova problemática que é o Saneamento do Meio. Os resíduos líquidos e sólidos, contaminando o solo e as águas, introduz uma variável importante no processo saúde-doença.
O turismo é atualmente a principal fonte de renda local. Toda a comunidade organiza-se, para as temporadas de verão, feriados prolongados, preparando as habitações, com ampliações e construções para hospedagem e alimentação dessa população flutuante que traz dinheiro, mas introduz também novos costumes.
- Então com asfalto ou não asfalto, vem gente sim, vem muita né. Eles gostam . E vem. Então acontece muita sujeira aí. É com eles mesmo. E esse pessoá que vem dão dinheiro pra nós aqui. Porque agente serve uma comida. Por exemplo eu não tou servindo mais, mas já servi muita comida. Meu filho serve, né. Então esse pessoá que vem traz dinheiro pra gastar com nós, que antigamente não tinha isso, né, antigamente não tinha. Agente não tinha onde lançar a mão pra ter um dinheiro, né. Porque a rocinha que a gente fazia era só pro gasto de casa, não dava pra vender. Então acho que agora tá melhor.
- Hoje que tem movimento na Trindade. Hoje tem carro aí adoidado. Pessoal de fora entraram aqui, tem seus apartamentos aí, seus prédios aí, essas coisas aí. Vê que até os povo de fora animaram a gente, deram umas força pra gente. Esse modo de viver. Antes não tinha medo . Aqui não tinha estrada como tem hoje. A nossa viagem pra ir em Parati era um caminho. Agente ia a pé. Antes ia a pé. Saía daqui com o clarear do dia, viajando a pé pra Parati, pra trazer no ombro. Pra pousar, pra voltar no outro dia.
- Ficou muito melhor, né. Melhorou muito. Porque antigamente nós ia daqui a pé em Parati. E agora nós vamos daqui no Alto. E as vezes agente tem uma carona pra ir. Agente paga pra ir até a cidade, agente vai. Nisso as coisa melhorou muito. Antigamente o dinheiro era pouco né, o dinheiro era pouco. Pra gente comprar alguma coisa, agente precisa lavar a roupa do pesoá.
Das 123 famílias existentes a época do início da transformação, restam 19 famílias que compõem a faixa etária estudada. Desse grupo apenas duas famílias que poderíamos classificar no grupo etário escolhido não foram entrevistadas, isto devido a ausência (por óbito) da mulher maior de 50anos. E uma das mulheres também dessa faixa etária não reside na vila de Trindade, espaço escolhido na investigação, mas em outra localidade denominada Caixadaço.
A partir da análise realizada, verificamos que as mulheres entrevistadas têm uma visão progressista com relação a vinda do turismo, uma vez que este é identificado com a melhora da sua qualidade de vida. A possibilidade de ganho, desenvolvendo atividades próprias femininas, cozinhar, cuidar da casa, quando servem refeições e alugam quartos, não é senão a extensão dos seus trabalhos domésticos só que remunerados.