Segundo Mircéia Eliade

O caráter a-histórico da memória popular, a impotência que a memória coletiva manifesta em reter os acontecimentos e as individualidades históricas, a não ser na medida em que as transforma em arquétipos, isto é, na medida em que anula todas as particularidades “históricas” e “pessoais” coloca uma série de novas questões. Interrogando a importância dos arquétipos para a consciência do homem arcaico e a incapacidade da memória popular de reter qualquer coisa além dos arquétipos não nos revelará algo mais do que a resistência da espiritualidade tradicional para com a história; e se essa incapacidade não nos revela a caducidade, ou, pelo menos, o caráter secundário da individualidade humana como tal, individualidade cuja espontaneidade criadora constitui, em última análise, a autenticidade e a irreversibilidade da história. Se observarmos o comportamento geral de homem arcaico, verificamos que apenas os atos humanos propriamente ditos, os objetos do mundo exterior, possuem valor intrínseco autônomo.
Ao analisarmos as ações do cotidiano, percebemos nelas seu significado e importância na história dessas mulheres. Algumas das atividades do tradicional mundo feminino permanecem sendo executadas. Atividade como lavagem de roupa na cachoeira, ainda é feita por uma das mulheres. A mesma que recusou-se a negociar com a Companhia para venda das terras, e na época da briga, deitou-se na frente do trator para evitar a destruição do local onde sua mãe lavava a roupa e suas filhas iriam lavar. A utilização do fogão a lenha por quatro mulheres do grupo pesquisado, mesmo possuindo o fogão a gás, marcando essas ações o não desligamento de comportamentos tradicionais (exemplares). E as atividades de lavoura que também permanecem.

- Ainda trabalho na roça ainda. Tô com essa idade ainda vou na roça. Com meu marido na roça. Carpir a mandioca, levar uma mandioca. Buscar uma planta lá, um aipim. Mas os nossos ossos já está cansado. Os nossos ossos já está muito cansado. Mas já viu muita coisa.